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segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dica de Filme relacionado ao Mundo do Trabalho: Amor Sem Escalas Up in the Air



Ryan Bingham (George Clooney), personagem de Amor Sem Escalas, adora a liturgia de seu trabalho. Sofisticado ele está sempre nos check ins dos aeroportos dos EUA ou a bordo dos aviões. Passa muito mais tempo viajando do que em seu apartamento. Por isso tem uma coleção invejável de milhas acumuladas. Uma coleção que o permite passar a viajar somente da classe executiva para cima e nunca mais na econômica. O movimento é sua terra firme, sua segurança e sua identidade.
Ele é um Conselheiro de Transições de Carreira, o que, sem eufemismos, significa que ele é contratado por empresas para demitir seus funcionários.Conselheiro de Transição!? Este é apenas mais um nome que dá o tom de cinismo do filme. Com a crise deflagrada em Wall Street em setembro/outubro de 2008 muitos trabalhadores foram para a rua sem perspectiva de transição. A única transição que se vislumbrava era do trabalho para a casa e daí para uma situação social mais precária.
Mas o desemprego é aqui algo circunstancial. O filme não se aprofunda nesta questão. Ele está mais para o ponto de vista daquele que tem o encargo de demitir abordando os aspectos profissionais e emocionais da função.Prova disso é que, em certo momento a empresa para a qual Bingham presta serviço decide experimentar a demissão via videoconferência proposta pela recém formada Natalie (Anna Kendrick).
O filme coloca novos tipos e novas relações de trabalho, delineando um trabalhador moderno, com a vida talhada por esta modernidade tecnológica, capitalista. O filme vai mais longe e coloca nisso contradições entre a subjetividade de cada um e os meios cada vez mais frios e impessoais destas novas relações.
Bingham acredita em seu trabalho. Ele defende que existe, um método apropriado para lidar com as pessoas no momento de sua demissão. Mesmo que o título Conselheiro de Transição possa parecer uma desculpa ridícula, ele leva a sério seu papel. Ele é um incentivador e não um derrotista. Por isso valoriza o contato, a presença, na hora da verdade nua e crua e protesta quando o chefe começa a flertar com o uso fácil, barato e confortável da videoconferência.
Paralelo a isso Bingham é cobrado por não ter o que o senso comum costuma chamar de “vida normal”. Sua irmã mais velha e a própria menina Natalie, em diferentes momentos, o julgam pela sua postura “egoísta”. Enquanto a sua irmã afirma que ele não gosta de fazer nada por ninguém, Natalie se espanta com o fato de casar e procriar não estar entre seus planos.
Ele parece não se importar com as acusações, mas o casamento de sua irmã caçula se aproxima, e com o evento começam novas cobranças.
Em uma de suas viagens conhece, então, a bela Alex (Vera Farmiga), que também passa mais tempo viajando do que em casa. O famoso Bingham, solteiro convicto à la George Clooney, dá sinais que sua fama de mau é injusta e acaba por se envolver com Alex. Acaba por gostar de Alex. E até por sonhar com uma vida a dois, ao lado dela.
Seus sonhos acabam com um golpe da realidade e Alex demonstra que, para ela aquilo não passava de uma aventura.
Ao fim Ryan Bingham quebra o estereótipo do executivo frio e egoísta. Se o seu trabalho parecia cínico e desumano ele embutia naquilo um tanto de verdade e de pessoalidade. Se em sua vida ele parecia um homem auto-suficiente, quando se apaixonou ele assumiu seu sentimento e tentou se aproximar de Alex.Ryan considerou os conselhos e as criticas da irmã e de Natalie.
No fundo o filme aborda o conceito de “vida normal” no contexto da emergência de novas relações de trabalho. Ao contrário de Alex que vivia uma vida dividida: aventuras versus vida normal, Ryan era a mesma pessoa tanto no exercício de seu trabalho “descolado” e “moderno”, quanto no papel de irmão mais velho nas relações familiares do casamento da caçula. A vida de Ryan era, para ele uma vida normal.